quarta-feira, 28 de março de 2012

Literatura - Modernismo - Parte I.

MODERNISMO:
Nas primeiras décadas do século XX o mundo passava por profundas modificações nos mais diversos setores: político, econômico, social e cultural. Foi à época da criação dos movimentos operários, as guerras e a revolução na indústria conviviam lado a lado, grandes invenções estavam à porta: cinema, automóvel, avião, etc.A Literatura, então, reinventa uma ruptura com o passado utilizando-se de irreverência e atuando de forma a trazer também nessa área as transformações e inovações decorrentes.

A Belle Époque


Em fins do século XIX os frutos da evolução já eram diretamente presentes na sociedade, o setor industrial crescia como louco com grandes invenções A Classe média vivia um sentimento de esperança, tudo era de tamanha euforia quanto às probabilidades futuras.
Era uma época em que os bares, a vida noturna, as atividades artísticas e culturais cresciam na Europa com grande velocidade e criatividade, recebendo com isso o nome de belle époque. Esse momento foi considerado uma época de paz, crescimento e beleza da França para com seus países vizinhos na Europa.


( cartaz de peça que narra a vida na belle époque)

Porém, de outro lado havia a classe operária, que lutava por condições melhores de vida, sendo esse o período da criação dos movimentos operários.

O Brasil na belle époque

O Brasil também foi afetado de maneira de suma importância nesse período, às transformações urbanas devido à vinda de imigrantes foi processo atuante. O processo socioeconômico crescia de um lado as manifestações rurais; de outro o crescimento e a urbanização das áreas centro-sul.

Correntes de Vanguarda

Juntamente com as transformações do início do século XX, vários processos artísticos foram criados e de suma importância para a expressão literária futura, são eles:

Futurismo
Surgiu por meio do Manifesto do Futurismo, publicado em Paris, em 1909, assinado pelo italiano Filippo Tommaso Marinetti. Nesse documento, o primeiro de uma série (foram publicados pelo menos vinte manifestos) – Marinetti propunha:
• O amor ao perigo, à verdade, à energia.
• A abominação do passado: arqueologia, academicismo, nostalgia, sentimentalismo.
• A exaltação da guerra, do militarismo, do patriotismo: “A guerra é a única higiene do mundo”.
• A substituição da psicologia do homem (destruindo o eu na literatura) pela obsessão da matéria.
• A incorporação de novos objetos como tema de poesia: locomotivas, automóveis, aviões, navios a vapor, fábricas, multidões de trabalhadores.
• “Exaltação da bofetada e do soco: Não há beleza senão na luta”.
Dos manifestos que seguiram que envolveram pintura, música, escultura, moral, mulher e arte mecânica, entre outros assuntos, o mais importante foi o Manifesto Técnico da Literatura Futurista, datado de março de 1912, publicado em Milão, onde são apresentados minuciosamente os pontos básicos de uma reforma radical:
• A destruição da sintaxe, com os substantivos dispostos ao acaso.
• O emprego do verbo no infinitivo, para que se adapte elasticamente ao substantivo e possa dar o sentido de continuidade e da intuição que nele se percebe.
• Abolição do adjetivo, para que o substantivo guarde sua “cor essencial”.
• Abolição do advérbio, “que dá à frase uma cansativa unidade de tom”.
• Supressão dos elementos de comparação: como, parecido com, assim como.
• Substituição dos sinais tradicionais de pontuação por signos matemáticos: X-:+=>< e pelos sinais musicais.
• Abolição de todos os clichês.

O propósito de fazer do Futurismo o estilo de arte que expressasse o progresso, a vida mecanizada, acabou fazendo desse movimento um meio de divulgação do fascismo de Mussolini. Futurismo e fascismo tinham em comum: o desprezo pela democracia e pelo socialismo, o antifeminismo, o caráter antiburguês.
A seguir, analise esse texto futurista e observe suas características: O trecho é de Álvaro Campos e chama-se: Ode Triunfal

Álvaro de Campos
(Heterônimo de Fernando Pessoa)

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu [sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos [modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical -
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força -
Canto, e canto o presente, e também o passado [e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
(...)
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
(...)

Cubismo
O ponto de partida do Cubismo foi a pintura de Pablo Picasso. O quadro Les Demoiselles d’Avignon, de 1907 propunha uma nova forma de apreensão do real. Por meio de formas geometrizadas, deformadas, Picasso procura captar o objeto em simultaneidade, isto é, de vários ângulos ao mesmo tempo.
Na literatura podem ser apontados os seguintes elementos do estilo cubista:
• A obra de arte não deve ser uma representação objetiva da natureza, mas uma transformação dela, ao mesmo tempo objetiva e subjetiva.
• A procura da verdade deve centralizar-se na realidade pensada, criada, e não na realidade aparente.
• A ordem cronológica deve ser eliminada. As sensações e recordações vão e vêm do presente ao passado, embaralhando o tempo.
• A valorização do humor, a fim de afugentar a monotonia da vida nas modernas sociedades industrializadas.
• A supressão da lógica; preferência pelo pensamento-associação, que transita entre o consciente e o subconsciente.
A técnica dos cubistas é a da representação da realidade por meio de estruturas geométricas, desmontando os objetos para que, remontados pelo espectador, deixassem transparecer uma estrutura superior, essencial. Os cubistas afirmam que as coisas nunca aparecem como elas são, mas deformadas em todos os sentidos.


Poema de Sete Faces
Carlos Drummond de Andrade

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu
[coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos , raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo,
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Gauche: termo francês, quer dizer torto, desajeitado


Dadaísmo
Surgido em Zurique, na Suíça, com o primeiro manifesto do romeno Tristan Tzara, lido em 1916, o Dadaísmo foi a mais radical das correntes de vanguarda.
O movimento nasceu no Cabaret Voltaire, ponto de encontro de artistas vindos de várias partes da Europa e que procuravam proteção contra a Primeira Guerra Mundial na neutralidade política da Suíça. Entre esses artistas estavam: Hans Arp, Marcel Jancso e Hugo Ball.
Para os dadaístas, a guerra evidenciava a crise de uma civilização cujos valores morais e espirituais já não tinham mais razão de serem preservados. Por isso, afirmavam o desejo de independência, de desconfiança para com a sociedade em geral: “Não reconhecemos nenhuma teoria. Basta de academias cubistas e futuristas: laboratórios de ideias formais”.
Numa prova dessa liberdade total, o próprio Tristan Tzara explica como surgiu o nome do movimento:
“Encontrei o nome por casualidade, inserindo uma espátula num tomo fechado do Petit Laorousse e lendo imediatamente, ao abri-lo, a primeira linha que me chamou a atenção: Dada.
Meu propósito foi criar apenas uma palavra expressiva que através de sua magia fechasse todas as portas à compreensão e não fosse apenas mais um –ISMO”.
“Dada” significa cavalo de balanço em francês, “sim” em romeno, preocupação em conduzir o carrinho do bebê em alemão, uma forma de chamar a mãe em italiano, e, em certas regiões da África, o rabo da vaca sagrada. A partir dessa plurissignificação, a obra dadaísta passa a ser improvisação, desordem, dúvida, oposição a qualquer tipo de equilíbrio.
Faziam parte das propostas dadaístas:
• A denúncia das fraquezas por a Europa passava.
• A recusa dos valores racionalistas da burguesia.
• A desmistificação da arte: “a arte não é coisa séria”.
• A negação da lógica, da linguagem, da arte e da ciência.
• A abolição da memória, da arqueologia, dos profetas e do futuro.
No último manifesto do movimento (ao todo foram sete), Tzara dá uma receita para fazer um poema dadaísta:
Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.
Certos de que a arte não precisa ser compreensível, os dadaístas inventaram a técnica dos ready mande, que consiste em retirar um objeto do uso corrente de seu ambiente normal, para criar máquinas impossíveis de utilização. Marcel Duchamp, um dos mais geniais criadores do ready made, expôs, entre outras coisas, uma roda de bicicleta cravada num banco e um urinol. Pintou também, certa vez, uma Mona Lisa decorada com bigodes.
As exposições dadaístas visavam sobretudo provocar escândalo. A mais sensacional de todas foi realizada em Colônia, na Alemanha, em 1920.
Expostos numa cervejaria, os ready made aguardavam os visitantes, que recebiam um martelo ao entrarem no recinto, a fim de destruírem as obras de que não gostassem. Bebidas alcoólicas foram distribuídas em abundância. Em meio à confusão, uma jovem vestida de primeira comunhão recitava poemas pornográficos. A mostra foi fechada pela polícia, mas atingiu seu objetivo: escandalizou a burguesia.
Com o tempo, o Dadaísmo irradiou-se para outros centros, como Nova Iorque, Berlim, Colônia, Hannover e Paris. A partir da década de 1950, apareceram, sobretudo nos Estados Unidos, movimentos neodadaístas são chamados de “arte do lixo” e a pop-art, baseadas nas mesmas idéias de protesto e de antiarte.
Leia um texto dadaísta:

Parafins gatins alphaluz sexohnei la guerrapaz
Ourake palávora driz okê Cris expacial
Projeitinho imanso ciumortevida vidavid
Lambetelho frúturo orgasmaravalha-me Logun
Homenina nel parais de felicidadania:
Outras palavras (Caetano Veloso)



Surrealismo
O Surrealismo foi o último dos movimentos de vanguarda. Surgiu em 1924, em Paris, quando André Breton lançou o Manifesto do Surrealismo.
O movimento nasceu de uma ruptura com o Dadaísmo. Enquanto os dadaístas insistiam na mera destruição, o niilismo e na autofagia, Breton e outros artistas como Louis Aragon e Salvador Dali achavam que a ação demolidora deveria somente uma das etapas do processo criativo. Queriam elaborar uma nova cultura, encontrar um caminho de acesso às zonas profundas do psiquismo no humano. Questionando a sociedade e a arte, eles se propunham destruí-la, para recriá-la a partir de técnicas renovadoras.
Os surrealistas procuravam fundir a imaginação, que dorme no inconsciente, com a razão. Juntar o maravilhoso do sonho, dos estados de alucinação e até de loucura do homem, com o maravilhoso e externo: a fantasia e a realidade unidas permitiram captar uma super-realidade.
Eram propostas dos surrealistas:
Abolição da lógica. Recusavam o racionalismo absoluto que permite apenas captar os fatos relacionados unicamente com a nossa experiência.
Valorização do inconsciente. Apoiados na pesquisas de Sigmund Freud, que identifica zonas (o subconsciente e o inconsciente) muito importantes para a ação do ser humano, procuram a inspiração nos sonhos.
Atribuição de um caráter lúdico à arte. A poesia deixa de ser em entendida como canto ou como meio de comunicação de vivências, para se tornar ação mágica, mito, meio de conhecimento:

• Automatização da escrita. O texto deve ter como preocupação maior captar o funcionamento real do pensamento. Os pensamentos devem ser exprimidos caoticamente, tal como nos ocorrem, sem preocupação com o ordenamento lógico.
• Presença do humor negro. Com o propósito de fugir aos lugares-comuns, os surrealistas juntam muitas vezes uma palavra logicamente adequada a uma outra absurda, produzindo imagens insólitas, como: anjo torto, cadáver agradável, morte feliz, etc.


Leia um texto surrealista:
As realidade
(fábula)
Era uma vez uma realidade
com suas ovelhas de lã real
a filha do rei passou por ali
E as ovelhas baliam que linda que está
a re a re a realidade.
Na noite era uma vez
uma realidade que sofria de insônia
Então chegava a madrinha fada
e realmente levava-a pela mão
a re a re a realidade.
No trono havia uma vez
um velho rei que se aborrecia
e pela noite perdia o seu manto
e por rainha puseram-lhe ao lado
a re a re a realidade.
CAUDA: dade dade a reali
dade dade a realidade
A real a real
idade idade dá a reali
ali
a re a realidade
era uma vez a REALIDADE.
(Louis Aragon)

No Brasil, o precursor do modernismo foi a semana de
arte moderna.
...continua...

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